domingo, 29 de novembro de 2009

plano b

Fazia tempo que meu vizinho, um velhinho, aposentado há 9 anos, planejava uma viagem. Sua aposentaria era pouca, porém levava uma vida, diríamos, digna.Sonhava conhecer o tão vasto mundo que sua esposa acreditava ter sido uma força divina que o criou. Entretanto a região do Prata, seu destino, estava de bom grado, frente a suas economias, sua humildade e contentamento.
Desejava que sua esposa ainda estivesse viva, para que o acompanhasse. Planejaram uma viagem desse tipo desde que se casaram, quando ainda eram bem jovens. A única viagem que fizeram juntos foi para a capital,  para realização de uma cirurgia de risco, infortunamente, para ela, aquela viagem fora só de ida.
Filhos, nunca tiveram, esperaram o momento certo para tal ocasião, porém, este nunca chegou.
Espero que este senhor, ao menos com esta viagem, usufrua do perfume da vida, ao invés de guardar os frascos apenas para momentos especiais (clichê, mas realmente espero).

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

As viagens de José: O homem da estrada.

O sol está quente na cabeça de José, que sentado pensa no assassinato que cometeu. A faca vermelha fincada no chão árido e o corpo jogado ao lado, “a civilização é superestimada”, pensa enquanto recupera seu chapéu e botas que o corpo outrora vivo lhe tomou.
Antonio lhe falou dos perigos da estrada, mas eram bruxas e anjos que o antigo andarilho temia, o mal de José era mais palpável. “O chapéu e as botas”, pensava, “aquele velho tolo dizia que um andarilho deveria defendê-los com a vida, eram seus talismãs, sua alma”.
Mesmo José tendo percebido que o chão lhe comeria os pés e o sol suas idéias se os perdesse, foi uma angústia mais primitiva que lhe levou ao ataque.
“É melhor afastar essas idéias e seguir o caminho, este homem agora pertence à estrada e um dia esta estrada pode lhe vingar a morte.”

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Ser tão vago

Me sinto sem mim mesmo... olho o céu num vagar contemplativo, numa contemplação vaga, ainda assim sinto falta de mim. Quando me sinto completo sei que não o estou sendo, porque assim não me sentiria, seria. Sinto um choro mudo, um coro de vozes doridas dentro do peito e um vácuo no coração. Me afundei fora de mim e emergi como os outros. Só esqueci de apagar da memória a falta que me faço. Um cordão tênue aperta meu coração e sinto meu peito opresso pela solidão indefinida. Sei a resposta para as minhas perguntas, só não quero me responder agora. Minhas mãos ainda hão de agarrar aquela estrela que me levará de volta pro meu ser, completo de cheio de mim.