domingo, 27 de setembro de 2009

Eu estava sóbrio, íntegro, inteiro.
Quando o acaso chutou no meu travesseiro
Uma poesia para o Rio de Janeiro

Era um punhado de pedra dura
Praias de areias finas
A Praça XV escura
Assustando o menino de Minas

Era a nossa cachaça bebida na Lapa
Que nos fazia girar saindo do mapa
Para agüentar o frio das escadarias coloridas

Era o vômito, o cansaço, as corridas,
Era puxar da memória
A melhor história
Das piores mulheres das nossas vidas

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O Sol

Que dia bonito! Estava lá, ele como um doidivano a esperar por mais beleza, quem sabe até o êxtase... vá lá saber, era considerado louco mesmo. Se bem que era verdadeiramente um banquete aos olhos nobres que o contemplasse, o Céu, o entardecer. Mais divino e aterrador que o amanhecer, trazendo até ele uma pergunta: O que será da noite? Será tão bela e dígna do evento que a precedeu? O êxtase o libertou da vida! Tomado, então, de devaneios próprios dos iluminados, ele se foi. Rumo ao infinito. Com uma estrela na mão e um copo de água, ele fez um milagre. Fez chover estrelas cadentes, multiplicando sorrisos e gozos do povo em geral. O liberto então saiu de cena e tomou seu manto e, vagando como os libertos vagam, foi dormir no canto de uma ave rupestre. E fez chorar o que o viu ascender aos planos inconcebíveis.

domingo, 20 de setembro de 2009

cão molhado

Aquele cão encardido, amedrontado se recolhe na marquise de minha casa em dias chuvosos.
Sua sujeira fica ainda mais em evidência devido à pelagem molhada, fedida. Como de costume, tento chamá-lo para dar-lhe atenção e assim oferecer a ração estocada em minha casa, do cão mimado que lá reside. Uma nova tentativa frustrada. Sendo assim, deixo a ração num canto e logo ela desaparece, mas para que ela suma, devo me esconder. Enquanto o cão se sente observado, ele não come, prefere se entender como invulnerável a morrer de fome. Então faço sua vontade e me escondo. Quando a chuva passa, ele passa junto. E com sua partida, o sentimento de culpa fica, mas logo some, até a próxima chuva.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

mito da 7ª

Há muito tempo atrás, numa galáxia muito distante, diante do alinhamento dos seus nove, oito planetas, ocorria o baile anual de formatura, onde a menina mais feia de escola, acompanhada do nerd, solta seus cabelos, dentro de um vestido provocante e se torna a garota mais cobiçada da festa.  Assim, o seu amigo de infância, o atual capitão do time de futebol americano, perceberá o quanto a ama, dando um fora na líder de torcida, que durante o último ano do colegial, acreditava ser a mulher de sua vida. Inconsolavelmente, a líder de torcida é humilhada por todas as suas amigas metidas.
Nesse clima de amor, além do fator astronômico, do posicionamento dos planetas, é fecundado o mais lindo e aclamado ser de todos os tempos, o clichê.
E vale ressaltar, que ao final do baile, os nerds encontram suas caras metades, igualmente nerds.

domingo, 6 de setembro de 2009

Prosa de Nêgo Véio

Oia meu sapato branco
branco quiném as nuvem
i pra num suja
Ieu ando num vai e vêm

Meu chápeu de páia
meu píto de páia
Num minto, é puis quê
isso é que atrapáia

Minha bengalinha de braúna
Inté fico preta
Iguar as ave di Graúna

Espia só indonde andei
São uns monte de caminhu
Mas o fim da linha nem ieu sei

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

E gritei um grito de felicidade quando já não mais havia motivo para sorrir.
Esqueci-me da Morte e por Ela passei saldando-a.
Quando minha morte chegou, a Morte disse: Enterro um trapo roto, mas levo um menino peralta.
E ensinei à Morte algumas canções que aprendi enquanto não chorava.
Ela me disse que poucos cantavam para Ela, porque estavam ocupados em sofrer.
Eu gritei de felicidade e a Morte sorriu seu recomeço como um dia que Nasce.