terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Pequeno ensaio sobre incertezas

Me curvarei diante da verdade como quem nada quer. A verdade seja dita como água de apagar incêndio. Se a verdade é o caminho, o primeiro passo é abrir os olhos. Se a verdade é o fim, o primeiro passo é seguirmos juntos, cada um no seu caminho. Como me encontro semi-desperto, sei da mentira, mas não sei da verdade. O que é verossímil é real, mas não é a verdade que eu quero. Vivamos em guerra pela paz e mentindo para viver.

O Grande Temporizador Programável Microcontrolado

É tudo tão pequeno e mínimo
O micro controla o macro
Sinergia se faz onde me sento
Sinto o vento dos tempos
Acabo de torcer meu coração
Que grita e toca o impossível
O menor dos sopros
Clama pela atenção do maior dos cães
Um temporizador programável microcontrolado
Algo tão amável quanto o bionismo
Chega agora em suas mãos
Deixe os grãos no chão
A Terra acolhe nossas escolhas
E escolas
É tudo tão mínimo
Que minhas sinapses são retrocesso
Não caibo em mim de tão grande que queria ser
Deixe o tempo para quem sabe do que se trata
Somos todos um amontoado de micros
Pseudo-Temporizados e controlados
Floresce então minha vida e morre
Como a Terra escolhe

sábado, 19 de dezembro de 2009

Não sei se podemos ver futuro na borra do café, mas sei que podemos ver nosso passado refletido no liquido preto. O passado deve ser sempre bonito, mesmo que embelezado pelo alívio. O menino anda reproduzindo um lema, que não é seu, mas foi adquirido, “a vida é sofrimento”, é isso que lhe salva todos os dias. Isso lhe permite não ser amargo com as pessoas e agüentar o tranco.
Os homens são bípedes e isso significa que andam com duas pernas, além disso, alguns deles só conseguem pensar exercendo essa faculdade. Por isso o menino anda, pra pensar, pra sobreviver, ele anda porque se ficar parado ele esquece que a vida é sofrimento e pode acabar se matando por isso.
A rua é o motivo de existência por excelência. Lá o homem encontra os outros homens. As pessoas de verdade são aquelas que não conhecemos. Os pais, o irmão, os amigos, não são pessoas, não representam nada. Eles se destacam para se tornar “José”, “Pedro”, “Tostes” ou o que seja. Pessoas são os outros e os outros são o motivo das nossas vidas.
Sair de casa não é apenas ver os “outros” mas ser um deles, prazer encantador esse de ser anônimo.
Gosto dos personagens constantes da rua: aquele mesmo velho no bar, aquela mesma menina linda com a qual sempre trocamos olhares, aquele mesmo mendigo, enlouquecendo aos poucos.
Não sei se é possível ver o futuro de qualquer forma, mas sei que a cidade está refletida no café. Ele nos chuta para fora de casa e nos mostra que a vida é sofrimento, o café é um “outro”.

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Era uma viagem ao inimaginável
uma efervescência côsmica
se deleitar com aquilo era obrigatório
epicurismo serão as histórias contadas
banquetes a mesa, fartos
visões iridescentes de numa nuvem eterna
velocidade se tornou termo descabido
aqui, aqui, aqui
se de olhos fechados estava claro
abri-los significava nascer novamente
e manter aberta a mente era como fechar uma torneira
o cérebro se mesclou ao coração
e estômago ao palpável
queria um vocabulário com infinitas possibilidades
para infinitas descrições
e fica aqui nem o meu êxtase
porque não posso limitar o pôr-do-Sol
a algo laranja e belo
é a morte
era realmente uma viagem ao impossível
morte à poesia,
enquanto não houver um vocabulário poético
à vocês selvagens,
baterei num tambor e entenderão
isso basta!!

domingo, 6 de dezembro de 2009

As viagens de José: a primeira vez que eu vi o mar

A Primeira vez que eu vi o mar eu era um pouco menos gente, a estrada havia tirado tanto de mim, tanta carne e tanta vontade que eu apenas seguia, sem olhar placas e pessoas que por mim passavam. Não lembrava mais da minha casa ou das pessoas que eu amava, eu era sozinho em um mundo infinito e desabitado, eu pensava que isso era paz e pensava que era o que eu queria.
Então apareceu zombando dos meus olhos o infinito por excelência, aquele que parece fazer o céu lhe seguir, coisa absurda o mar. Eu o olhei como uma criança, e a paixão dos homens antigos se apossou de mim, era preciso lhe enfrentar, estava na minha natureza, entendi que era para isso que o homem foi criado, cada individuo sobre a terra em suas casas ou na estrada, eram traidores da espécie que nasceu apenas para triunfar sobre o mar.
“Parece que não acaba nunca né? Esse bichão engole a gente e deixa nossas mulheres chorando, achando que não volta mais. E então, ele nos cospe triunfante e devolve uma coisa magra e salgada para casa. O mar é pior que a guerra, meu amigo”. Era um homem negro cuja idade era impossível calcular, que vendo meus olhos encantados, disse-me essas coisas... E eu, me vi novamente como uma criança sob as palavras maiores de um velho viajante.

domingo, 29 de novembro de 2009

plano b

Fazia tempo que meu vizinho, um velhinho, aposentado há 9 anos, planejava uma viagem. Sua aposentaria era pouca, porém levava uma vida, diríamos, digna.Sonhava conhecer o tão vasto mundo que sua esposa acreditava ter sido uma força divina que o criou. Entretanto a região do Prata, seu destino, estava de bom grado, frente a suas economias, sua humildade e contentamento.
Desejava que sua esposa ainda estivesse viva, para que o acompanhasse. Planejaram uma viagem desse tipo desde que se casaram, quando ainda eram bem jovens. A única viagem que fizeram juntos foi para a capital,  para realização de uma cirurgia de risco, infortunamente, para ela, aquela viagem fora só de ida.
Filhos, nunca tiveram, esperaram o momento certo para tal ocasião, porém, este nunca chegou.
Espero que este senhor, ao menos com esta viagem, usufrua do perfume da vida, ao invés de guardar os frascos apenas para momentos especiais (clichê, mas realmente espero).

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

As viagens de José: O homem da estrada.

O sol está quente na cabeça de José, que sentado pensa no assassinato que cometeu. A faca vermelha fincada no chão árido e o corpo jogado ao lado, “a civilização é superestimada”, pensa enquanto recupera seu chapéu e botas que o corpo outrora vivo lhe tomou.
Antonio lhe falou dos perigos da estrada, mas eram bruxas e anjos que o antigo andarilho temia, o mal de José era mais palpável. “O chapéu e as botas”, pensava, “aquele velho tolo dizia que um andarilho deveria defendê-los com a vida, eram seus talismãs, sua alma”.
Mesmo José tendo percebido que o chão lhe comeria os pés e o sol suas idéias se os perdesse, foi uma angústia mais primitiva que lhe levou ao ataque.
“É melhor afastar essas idéias e seguir o caminho, este homem agora pertence à estrada e um dia esta estrada pode lhe vingar a morte.”

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Ser tão vago

Me sinto sem mim mesmo... olho o céu num vagar contemplativo, numa contemplação vaga, ainda assim sinto falta de mim. Quando me sinto completo sei que não o estou sendo, porque assim não me sentiria, seria. Sinto um choro mudo, um coro de vozes doridas dentro do peito e um vácuo no coração. Me afundei fora de mim e emergi como os outros. Só esqueci de apagar da memória a falta que me faço. Um cordão tênue aperta meu coração e sinto meu peito opresso pela solidão indefinida. Sei a resposta para as minhas perguntas, só não quero me responder agora. Minhas mãos ainda hão de agarrar aquela estrela que me levará de volta pro meu ser, completo de cheio de mim.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

medley

Edu precisava dançar, sentia internamente as perfeitas vibrações musicais que lhe causava estímulos da cabeça aos pés. Porém através de um movimento voluntário, travou seu esqueleto, prestes a entrar em colapso, devido à discriminação, provável, dos olhos alheios.
Dessa forma, para evitar qualquer constrangimento, seguiu seu caminho, de pés calados, sedentos por uma dança.
André Tostes

Enquanto isso (...)

Gabi trancou o quarto, colocou um CD que já tinha uma camada considerável de poeira e aumentou o volume.
Não estava feliz, nem triste. Mas seu corpo vibrava num compasso ritmado, exato.
Era ânsia de estar além, de cortar o ar, de materializar a poesia que estava dentro dela. Então dançou. Como nunca antes, Gabi dançou.
Parou de sopetão. Corou rápido, abriu um meio-sorriso amarelo...
“droga, esqueci a janela aberta”

“Se eu não puder dançar essa não é a minha revolução” - Emma  Goldman

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Escrito na pedra estava minha oração a mim

A vida que escarneci não escarneço mais. A morte que aguarda por mim, sadia e serena, continua a se desenvolver. A casca que era eu, hoje jáz no solo brotando em algo novo, ou fecundando a terra. Possa eu chorar, mas ver algo novo. Possa eu ver o Pôr-do-Sol, evento infinito em mim. E a sorte que doi ser mais uma vez um caminhante entre as trilhas de corações, seja sorte de viver entre corações. Meu turbulento despertar seja sereno amanhecer. Ontem é hoje e amanhã não é nada fora de mim. Hoje sou mais do que sempre serei, sem nunca imaginar que sou. A vida que sonhei não foi feita para ser sonhada, ser vivida. Acrescento nenhum perdão, porque o pecado, grilhão cruel, feriu meus pés jornadeiros. Negando as glórias, sou maior que todas as conquistas. Se no princípio era o verbo, ainda sou cego, e cego serei até chegar ao fim. Seja feita luz sobre minhas mãos, elas me dizem o que será feito de mim. Mas lembro bem, ainda, não sou nada, nunca serei nada, não posso querer ser nada. Tenho em mim o mundo, fora de mim um mundo. Ipso facto, et cetera.
Abomina a dança o cantor
fazer calar o ter e ser a dor
sentir o frio de viver
ser sem pensar em ver
sem ver o sentido de ter
abomina o calor a luz
o sentido do toque etéreo
diga que o ar puro conduz
a massa defraldada ao réu
sem subjugar o véu tapume
faça de mim um arco
no breu do tempo
para que suma
sem ter existido
abominado tudo

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

As viagens de José: o centro do mundo

Ele guarda nos olhos um pedaço de memória perfeita: na mesa, a cachaça e o baralho, e no vento as palavras que dançavam bêbadas relembrando como os amigos conversam. Amigos que quase só se vêem em lembranças como essas.
Ele desejava o centro do mundo, onde tudo acontecia. “O centro do mundo é o México”, dizia seu velho conhecido que ele tão saudosamente escolheu deixar para trás. Mas ele sabia que Antonio sempre esteve certo: “o centro do mundo é o México e um dia eu estarei lá”, repetia enquanto marcava à canivete a triste mesa do seu escritório.
Sentia que havia viajado ao mundo todo dentro de Minas, toda sabedoria espalhada por lá, mas vinha essa frase lhe assombrar o espírito, onde já se viu seu Zé? Saber onde fica o centro e nunca ter ido pra lá. Pra isso precisava de um barco, ele sabia que só assim essa viagem deveria ser feita, na sua idade qualquer estrada deve ser digna da morte, e só o mar é, esse implacável amigo que sempre foi o maior adversário do homem. “Antonio sabia conversar com o mar”, repetia consigo seu Zé, “será que eu aprendo?”

domingo, 27 de setembro de 2009

Eu estava sóbrio, íntegro, inteiro.
Quando o acaso chutou no meu travesseiro
Uma poesia para o Rio de Janeiro

Era um punhado de pedra dura
Praias de areias finas
A Praça XV escura
Assustando o menino de Minas

Era a nossa cachaça bebida na Lapa
Que nos fazia girar saindo do mapa
Para agüentar o frio das escadarias coloridas

Era o vômito, o cansaço, as corridas,
Era puxar da memória
A melhor história
Das piores mulheres das nossas vidas

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

O Sol

Que dia bonito! Estava lá, ele como um doidivano a esperar por mais beleza, quem sabe até o êxtase... vá lá saber, era considerado louco mesmo. Se bem que era verdadeiramente um banquete aos olhos nobres que o contemplasse, o Céu, o entardecer. Mais divino e aterrador que o amanhecer, trazendo até ele uma pergunta: O que será da noite? Será tão bela e dígna do evento que a precedeu? O êxtase o libertou da vida! Tomado, então, de devaneios próprios dos iluminados, ele se foi. Rumo ao infinito. Com uma estrela na mão e um copo de água, ele fez um milagre. Fez chover estrelas cadentes, multiplicando sorrisos e gozos do povo em geral. O liberto então saiu de cena e tomou seu manto e, vagando como os libertos vagam, foi dormir no canto de uma ave rupestre. E fez chorar o que o viu ascender aos planos inconcebíveis.

domingo, 20 de setembro de 2009

cão molhado

Aquele cão encardido, amedrontado se recolhe na marquise de minha casa em dias chuvosos.
Sua sujeira fica ainda mais em evidência devido à pelagem molhada, fedida. Como de costume, tento chamá-lo para dar-lhe atenção e assim oferecer a ração estocada em minha casa, do cão mimado que lá reside. Uma nova tentativa frustrada. Sendo assim, deixo a ração num canto e logo ela desaparece, mas para que ela suma, devo me esconder. Enquanto o cão se sente observado, ele não come, prefere se entender como invulnerável a morrer de fome. Então faço sua vontade e me escondo. Quando a chuva passa, ele passa junto. E com sua partida, o sentimento de culpa fica, mas logo some, até a próxima chuva.

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

mito da 7ª

Há muito tempo atrás, numa galáxia muito distante, diante do alinhamento dos seus nove, oito planetas, ocorria o baile anual de formatura, onde a menina mais feia de escola, acompanhada do nerd, solta seus cabelos, dentro de um vestido provocante e se torna a garota mais cobiçada da festa.  Assim, o seu amigo de infância, o atual capitão do time de futebol americano, perceberá o quanto a ama, dando um fora na líder de torcida, que durante o último ano do colegial, acreditava ser a mulher de sua vida. Inconsolavelmente, a líder de torcida é humilhada por todas as suas amigas metidas.
Nesse clima de amor, além do fator astronômico, do posicionamento dos planetas, é fecundado o mais lindo e aclamado ser de todos os tempos, o clichê.
E vale ressaltar, que ao final do baile, os nerds encontram suas caras metades, igualmente nerds.

domingo, 6 de setembro de 2009

Prosa de Nêgo Véio

Oia meu sapato branco
branco quiném as nuvem
i pra num suja
Ieu ando num vai e vêm

Meu chápeu de páia
meu píto de páia
Num minto, é puis quê
isso é que atrapáia

Minha bengalinha de braúna
Inté fico preta
Iguar as ave di Graúna

Espia só indonde andei
São uns monte de caminhu
Mas o fim da linha nem ieu sei

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

E gritei um grito de felicidade quando já não mais havia motivo para sorrir.
Esqueci-me da Morte e por Ela passei saldando-a.
Quando minha morte chegou, a Morte disse: Enterro um trapo roto, mas levo um menino peralta.
E ensinei à Morte algumas canções que aprendi enquanto não chorava.
Ela me disse que poucos cantavam para Ela, porque estavam ocupados em sofrer.
Eu gritei de felicidade e a Morte sorriu seu recomeço como um dia que Nasce.

domingo, 30 de agosto de 2009

wild screen




por Daniel Braga e André Tostes.
(clique na imagem para visualizá-la melhor)

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

E eu acho que foi assim...

E assim ocorreu... foi num dia que ninguem se lembra, não porque foi um dia não bom... mas porque foi um dia que as pessoas olharam e disseram que foi como qualquer outro. Como qualquer outro... talvez um "menos um dia da semana" ou "ufa"... mas eu estava lá, eu acho... as Nuvens caminhavam pelo Céu a poupar o Sol de ver nosso desprezo pelas flores, e a querer chorar por ver nosso descaso com os Ventos. Um Raio dourado penetrou pela janela do meu quarto e invadiu meu coração, me trouxe uma idéia clara, diáfana, bela, rara. Me encheu de Luz. Assim, um Raio me deixou feliz e, era Ele, dourado sim. Meu coração agora já não batia, mas sim pulsava energia contemplativa. E fui embora. Foi quando a fuligem das idéias mal concatenadas golpeou meu coração, chorei. Reergui-me em alguns dias, e no meu coração as fuligens nunca mais entrarão. Hoje os Pássaros não cantam mais pra mim, mas para todos os corações que estão dispostos a amá-los sem os sonegar ou privá-los de amar.

domingo, 19 de julho de 2009

segunda-feira, 29 de junho de 2009

gambiarra

O mesmo fogo que alumiou o céu estrelado, que indicava a festa da mãe santíssima daquele povoado, incandesceu os tristes olhos cintilantes daquele menino barrigudinho do interior do sertão baiano.
As luzes da gambiarra tornavam visível o que era impossível enxergar nas noites cálidas sem festejo. Agora, durante o dia e a noite, todos podiam contemplar com clareza as rachaduras daquele solo castigado. As orações, daquele povo devoto, pareciam ter sido ainda mais reforçadas, porém, ainda não se sabe o motivo para tanto clamor. Talvez seja o fato da santinha milagrosa prometer enviar chuva pros próximos dias, segundo as palavras do pároco local, ou talvez pelo simples fato da realidade, agora, ser exposta 24 horas por dia, graças a luzes da gambiarra.

sexta-feira, 19 de junho de 2009

terça-feira, 9 de junho de 2009

esfarrapado/a

Encontrei o amor da minha vida, isso faz dois meses. Fiz juras secretas e silenciosas, as quais somente eu pude ouvir. Não foi recíproco, nunca soube o que ela tinha a dizer. Encontrei uma outra que a substituísse, que me fizesse companhia até o fim dos meus dias, afinal, já tenho 20 e poucos anos e não quero ser um trintão em busca d’alma gêmea. Assim, foi-se a segunda, prontamente busco a primeira e me entrego de amores. Logo menos a segunda também há de me desejar e vice-versa, porém é mais fácil crer no versa. Não suporto mais tamanha solidão. Mas o pior de tudo isso é ter que viver numa sociedade monogâmica. Não, não, pior mesmo é achar que eu posso ter as duas.

sábado, 16 de maio de 2009

fiapos

Selvagem ou moleque vadio sem modos, assim me sinto comendo uma manga sem faca. Dentes e uma única mão bastam. Assim, sinto o prazer em devorar aquele sulco carnoso que remonta a infância na roça. Ahhh, como é bom ser selvagem, moleque vadio sem modos.

Um fio dental, por favor!

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Do método de trabalho

Talha,
Retalha,
Amassa
E rasga.

Escreve,
Descreve,
Reescreve
E risca.

Faz e
Refaz.

Teima em ser capaz
E por fim termina.

domingo, 26 de abril de 2009

Hollywood

Acordou num surto de tosse. Sua glote parecia dar um nó, só havia espaço pra sair vestígios de muco acumulados em sua traquéia. Sentiu-se enojado. Só pensava que a partir daquele momento largaria o fumo. Já não suportava essas noites mal dormidas. Logo assim que a crise passou, acendeu um cigarro, somente para relaxar.

segunda-feira, 20 de abril de 2009

Ele apagou o cigarro no rosto da sua mulher, ameaçou-a com uma pistola, quebrou 3 dedos da mão esquerda dela. Ela o traiu. Assim dizia o blues que ela ouvia.




Entrou em desespero, imaginava quando ele faria tais coisas, se realmente a arma não passaria da ameaça, se mais coisas aconteceriam. Parou. As portas do armário estavam abertas não havia nenhuma peça de roupa dele, a guitarra também não estava mais no seu lugar usual...

sábado, 11 de abril de 2009

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Eu queria saber a verdade,
se todo escritor é ruim,
Não digo por falta de habilidade
Mas por um egoísmo sem fim.

Don Francisco escreveu uma carta
E queria lê-la para mim
Ela começava: “Marta...”
Mas só havia Francisco no fim.

É assim toda a história
Quem escreve quer o céu
Quer meter-se no papel
Escalando até a glória

quinta-feira, 26 de março de 2009

ínterim

- Você me ama?
-...amo.
- Até onde?
-...até aqui. (apontou pro coração)
- Hmm! (não muito satisfeita)
- Por enquanto quero estar com você à vida toda.
- Hã? Como assim, por enquanto?
- É, oras, pode ser que amanhã eu não queira.
- O que você acha que significa "a vida toda".
-...
(longo silêncio)
- Mas então, você me ama?

sábado, 21 de março de 2009

Mariana

-Mariana, o que você ta fazendo?
-Ué?! Vovô que mandou.
-Isso é sabão menina!
-Mas ele disse: "não chateia! Vai lamber sabão, vai!

sábado, 14 de março de 2009

As coisas de criança (2)

— Dá!
—Mas que coisa... Maria, o bebê falou!
—Falou?! Que lindo, disse papai?
—Na verdade não... acho que ele queria dinheiro.
—Mamãe falava que é bom sinal.
—Mas... já vem pedindo antes de dar oi...

sábado, 7 de março de 2009

kuka

Sobre aquela cordilheira, senhoras coloridas num balançar desengonçado, devido o declínio do percurso árduo que lhes fora “herdado”, expõem suas tranças, partidas ao meio, reflexo de uma imposição real do passado. Assim se configura parte da memória de minha tribo, marcada por opressões, hoje quase esquecidas; fora um tempo árduo.
Uma folha milagrosa nos faz resistir toda fadiga acumulada por séculos. Seu poder analgésico alivia as dores estigmatizadas. E por mais que condenem tal ato, apenas isto nos foi deixado após terem tudo levado.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Die Spieregel

Abriu os olhos, ainda estava tonto, esperou um pouco e levantou-se. Uma forte dor de cabeça o afligia, levou a mão direita a testa, acima do olho esquerdo, e sentiu alguma coisa melada, no espelho do banheiro viu que era sangue, havia um corte onde sua mão tocou. Fez um esforço grandioso pra lembrar o que aconteceu na noite anterior e sua dor de cabeça ficou mais forte, foi como se alguém houvesse lhe dado uma marretada.

Deixou-se cair na cama alguns, flashes da noite anterior começaram a vir: o vaso arremessado contra ele, que o atingiu direto na cabeça, a discussão, Giulia indo embora...

-Onde você estava? – respondeu alguma coisa enrolada devido à bebedeira – No bar, de novo naquele maldito bar!
-Escute eu tive uma noite péssima... conversamos amanha.
-Hahaha! Você só pode estar brincando. Noite péssima tive eu. Que aconteceu assim de tão ruim?
-Não me venha com ironias...
-Ironia?! Só quero saber o que estragou tanto assim sua noite.
-Perdi todo o dinheiro no jogo...
-Seu canalha! È a terceira vez, TERCEIRA VEZ!!! – e começo a xingá-lo e arremessar objetos nele
-Calma, calma, calma!
-Seu filho da puta descarado, como posso ficar calma? A vontade que tenho é de esganar você.
-Me desculpe! Não torna a acontecer.
- É terceira vez que me diz isso. Pra mim chega! - Foi pro quarto jogou quase todas as peças de roupa numa mala
-Não faça isso, eu te amo!
-As únicas coisas que você ama são seus malditos jogos e porres – dito isto bateu a porta da sala e se foi.

Levantou-se foi até a sala: tudo fora de lugar, vidro espalhado por todos os lados, porta aberta. Voltou para o quarto e abriu o lado dela do armário, não tinha quase nada, no fundo havia pote preto, pegou e abriu o pote, dentro tinha quinhentos reais, dinheiro que Giulia estava juntando para alguma coisa. Quintos reais, ele pensou, ainda tenho uma chance, jogo, recupero o dinheiro e recupero Giulia. Lavou-se e dirigiu-se ao bar costumeiro.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

As coisas de criança (1)

A casca quebrou, o garoto pôde ver, entre lagrimas, um ser incompleto tentando se mover. O menino, aflito, torce para que não morra a vítima do seu primeiro crime. Ele e o pássaro estão vermelhos, ambos acreditando na vida, mas logo o pequenino cai no chão e não se move mais.
O garoto sentou na calçada e ficou olhando para o pequeno pássaro morto, foi uma pedrada certeira, poucas folhas caíram junto dele, coisa rara uma pedrada assim.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Miss Bisturi



Feito por:
André Tostes
Giuseppe Marin

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Meu amigo tatuí, famoso Pedro mentira

-Assina aqui, por favor!
-Nessa linha aqui? Tatuí Santia... É... É... Será que você teria outro formulário, assinei c meu apelido... Esses malditos apelidos!
-Tudo bem, não tem problema! Por que Tatuí?
-Ah! Vem da época de escola, como muitos outros. Mas Tatuí foi o que pegou, tem tanto tempo que sou chamado de Tatuí que às vezes acabo esquecendo meu nome.
-Mas é um apelido legal!
-Experimenta ser chamada por uma coisa que você desgosta e que acaba virando sua identidade... Bom... Tai, dessa vez assinei certo.
-Tchau, boa tarde!
-Boa!

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

“Eu não vou!”
Ele bateu a bengala tão forte no chão que o interfone tocou.
“Não, está tudo bem, foi meu pai... isso, com a bengala de novo... não, ele não vai.”
Sai da casa logo em seguida, é a minha quinta visita ao velho sem que eu o convença a mudar daquela casa cheirando a jornal, maldito cheiro que ele insiste em dizer que era o da minha mãe.
Já estou ficando conhecido no prédio e na rua, tomo sempre um café com o porteiro quando estou saindo da casa: “é Jorge, eu já estou não sou jovem também, vou me aposentar esse ano, mas tenho a terrível sensação de que o “velho” é mais lúcido que eu, mesmo com toda aquela teimosia”.
E quando saio de lá, o jornaleiro: “Seu Felipe, como vai o velho? Turrão como sempre? (...) Ah aquele lá não tem jeito, quando eu era garoto ele dava umas bengaladas na gente se deixasse a bola cair na sacada...”.
Eu sempre sorria, parava, conversava... Descobri que meu pai não é impenetrável como pensava, na verdade toda aquela rua girava em torno dele e do seu ranço pelo mundo, aquelas pessoas amavam o meu pai, e eu aprendia a amá-lo por elas. “Quarta feira eu volto, vai saber se ele não muda de idéia”.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Ópio

Ele não assisti ao noticiário, não é graduado e muito menos disciplinado. Nunca possuiu um propósito comum.
Com certa euforia, apesar da longa idade, todos os dias, um pouco antes do entardecer a passos largos ele sobe a colina e se enraíza num solo fértil, que há tempos o acolhe. Ali ele admira e exalta sob olhar mórbido, o que considera o seu espetáculo particular. Tal privilégio se deve a falta de percepção dos habitantes daquele vilarejo, chamado Metrópoles, à atração sempre renovadora da natureza, o pôr do sol.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Sem café, sem leitura!

Acordei, era domingo. Mas precisamente 14h 57min do primeiro domingo de Janeiro. As coisas só saem errado em dois dias da semana no primeiro dia ou exatamente no meio dela.
Como eu ia dizendo, acordei e ela não estava mais ao meu lado, em cima de seu travesseiro um envelope... Levantei, fui até a cozinha e liguei a abençoada máquina, a cafeteira, voltei no quarto, troquei de roupa e saí para buscar o jornal. Quando voltei o café estava pronto. Peguei uma xícara e sentei com meu jornal (li quase todo jornal, só parei quando acabou a jarra de café).
Voltei no quarto, apanhei o envelope nele só estava escrito o meu nome, Paulo, abri-o. . . Dentro dele: duzentos e cinqüenta reais e uma carta. Coloquei o dinheiro no bolso e rasguei a carta, e pela janela do décimo quarto andar joguei fora os pedaços de papel picado. Não podia ler mais nada, o café tinha acabado!