“Eu não vou!”
Ele bateu a bengala tão forte no chão que o interfone tocou.
“Não, está tudo bem, foi meu pai... isso, com a bengala de novo... não, ele não vai.”
Sai da casa logo em seguida, é a minha quinta visita ao velho sem que eu o convença a mudar daquela casa cheirando a jornal, maldito cheiro que ele insiste em dizer que era o da minha mãe.
Já estou ficando conhecido no prédio e na rua, tomo sempre um café com o porteiro quando estou saindo da casa: “é Jorge, eu já estou não sou jovem também, vou me aposentar esse ano, mas tenho a terrível sensação de que o “velho” é mais lúcido que eu, mesmo com toda aquela teimosia”.
E quando saio de lá, o jornaleiro: “Seu Felipe, como vai o velho? Turrão como sempre? (...) Ah aquele lá não tem jeito, quando eu era garoto ele dava umas bengaladas na gente se deixasse a bola cair na sacada...”.
Eu sempre sorria, parava, conversava... Descobri que meu pai não é impenetrável como pensava, na verdade toda aquela rua girava em torno dele e do seu ranço pelo mundo, aquelas pessoas amavam o meu pai, e eu aprendia a amá-lo por elas. “Quarta feira eu volto, vai saber se ele não muda de idéia”.