quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

“Eu não vou!”
Ele bateu a bengala tão forte no chão que o interfone tocou.
“Não, está tudo bem, foi meu pai... isso, com a bengala de novo... não, ele não vai.”
Sai da casa logo em seguida, é a minha quinta visita ao velho sem que eu o convença a mudar daquela casa cheirando a jornal, maldito cheiro que ele insiste em dizer que era o da minha mãe.
Já estou ficando conhecido no prédio e na rua, tomo sempre um café com o porteiro quando estou saindo da casa: “é Jorge, eu já estou não sou jovem também, vou me aposentar esse ano, mas tenho a terrível sensação de que o “velho” é mais lúcido que eu, mesmo com toda aquela teimosia”.
E quando saio de lá, o jornaleiro: “Seu Felipe, como vai o velho? Turrão como sempre? (...) Ah aquele lá não tem jeito, quando eu era garoto ele dava umas bengaladas na gente se deixasse a bola cair na sacada...”.
Eu sempre sorria, parava, conversava... Descobri que meu pai não é impenetrável como pensava, na verdade toda aquela rua girava em torno dele e do seu ranço pelo mundo, aquelas pessoas amavam o meu pai, e eu aprendia a amá-lo por elas. “Quarta feira eu volto, vai saber se ele não muda de idéia”.

3 comentários:

R. Bloise disse...

Eu convivo com esse tipo de teimosia, sei muito bem como é...

Anônimo disse...
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DuQuE disse...

mais teimoso é o filho...que insiste em perturbar o pai!!!