Eu não sou daqui, eu fui criado aqui, conheço os nomes das ruas e sei para onde elas levam, reconheço os rostos das pessoas e o companheirismo dos amigos que fiz. Mas bate na cabeça a frase fria, feito o ferro que tenho dentro de mim: eu não sou daqui.
Isso não mudará jamais, reconheço no sotaque uma impossibilidade de reação, um conforto familiar, um espanto de filho encontrando a mãe, perdida há anos, em outras terras, em outro lugar, lá, no lugar de onde vim.
Quando o sorriso é outro, e os olhos (sempre mais velhos por lá) fazem a falta que só noto quando estou mais perto (de alguma forma mais perto de mim). Ando pelas ruas, andar meio mineiro... Todo mineiro deveria ter um canivete, penso me lembrando de Sabino, quando terei o meu?
Fui menino mineiro o suficiente? Crescido tão longe de lá, cada vez mais longe e mais saudoso. Não conheço minha terra. Mas reconstruo-a toda em mim, em meu peito bate o solo mais rico e o povo mais velho, em meus olhos, a eterna desconfiança do mar, pois se lhe conheci cedo, ele nunca me pertenceu.