domingo, 12 de outubro de 2008

Homunculu

Meus passos são curtos, finjo ter a paciência dos sábios, a gravidade dos eruditos que desistiram da vida. Fumando opinião, calculo quanto tempo deixo a mão passar pela grade, sem que ela se suje demais.
Meus óculos redondos, de grau alto, coisa de quem nasceu assim e finge que cansou as vistas com segredos. Menino que no fundo, tinha tudo para ser feliz, mas preferiu não ser.
Minha brancura meticulosamente preservada. Meu Brecht meticulosamente decorado. Olho como quem espreita, enceno como ator de quinta. No meu jornal letras francesas, no livro um alemão arcaico, nas mulheres que amei uma melancolia fria, digna.
Acabaram-se as bandeiras, a esperança é a ilusão dos povos, o novo ópio. O silencio da minha voz é o discurso de uma geração em choque. Eu li as palavras dos bardos na minha juventude, hoje não há nada que faça meu peito bater.
Eu fumo a opinião que quero ter, bebo toda razão de que preciso, e engulo em frio comprimido o amor e a inspiração que me falta para viver.

Um comentário:

Anônimo disse...

Tem um pouco de Sabino aí?
De se tomar em doses elevadas. s2