domingo, 28 de dezembro de 2008

Descia veloz como o vento, maior que os maiores homens, a ladeira íngreme de Belo Horizonte. Nunca por lá passara herói mais rápido e corajoso, entretanto, a fortuna não é amante dos bons e o freio falhou na hora da curva. Sem tempo para pensar arriscou os próprios pés que rasgavam na estrada, conseguindo fazer parar, no ultimo segundo, o carrinho de rolimã de madeira.
Se não existisse o Super Nintendo, nosso herói não sobreviveria à fatídica semana que se seguiu.

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Vermelho do asco do laço no espelho
Quebrado deixado de lado
Até o show pirotécnico foi adiado perante a
Terrível morte de
Milhões de judeus


Autores: Thaís, Maykon, André, Rodrigo e Gabriel

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

42

“Eu já tenho 42 anos”, ele disse. Quarenta e dois! Minha nossa! Desde que eu me lembro meus pais tinham 30 anos, quer dizer meu pai 31 e minha mãe 30(sei que ele é mais velho que ela um ano). Lembro-me perfeitamente de responder num questionário qualquer da escola, aos 6 anos, que meus pais tinham 30... Até então isso nunca tinha mudado.
Era manhã quando eu o ouvir dizer isso, por volta das 9horas, eu que levava um copo de café à boca estacionei-o no meio do caminho, assustado por assim dizer. Quando eu achava q eles tinham 30, tinham menos, muito menos, o que quer dizer que muito mais de 12 anos se passaram e eu não percebi. Não quero nem pensar com quantos anos estou.

sábado, 29 de novembro de 2008

O poeta sempre foi um cara sério demais, eu o observo da minha janela, se arrastando pelas ruas não vira o rosto quando passa a mulher e só interrompe o constante e metódico andar para falar de literatura: “Eu não acredito em homens que não leram Thomas Mann e Shakespeare”, disse uma vez ao seu aluno, “eu não acredito que o senhor seja homem”, respondeu prontamente com um sorriso no rosto, o jovem que ganharia mais dinheiro e mulheres que o nobre homem à sua frente.
Mas o que é o dinheiro comparado à vaidade de um artigo publicado, de um livro premiado, da doce e respeitosa palavra saindo da boca dos interlocutores: “doutor”. O que são as mulheres perto das letras?
O poeta é o único homem sério do mundo, é necessário, no meio de tantos enganadores, tantos “troca tintas” que lançam livros que os outros lêem, “ah, é o fim dos tempos... Lê-se isso atualmente”. Nunca lerão seus estudos sobre Beckett? Nunca reconhecerão nele um Ruy Barbosa que seja?
“Eles não sabem o que fazem, a maioria nem possui graduação, ah que alívio respirar os ares de Paris, que alívio Senhor, que alívio!”

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Uma bobice qualquer

Se pedirem para que eu descreva minha própria fisionomia, não seria capaz de tal proeza. Seria capaz de descrever amigos, familiares e até o dono da padaria para um retrato falado, porém, me descrever, seria impossível. Diria no máximo, um nariz grande, marcas de espinhas na bochecha e um dente incisivo torto na arcada inferior, nada além disso.
Estou acostumado a chorar, rir, ficar vermelho de constrangimento, porém é raro me ver nessas situações, tomo susto quando me deparo entregue a tais sensações frente a um reflexo.
Minha mãe diz que sou bonito e eu sempre discordo, mas tem vezes, que me olho no espelho e penso: “É, realmente não sou de se jogar fora”.
Ahhh meus Deus, como eu sou bobo!

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Quarta-Feira

Acordei tarde numa quarta-feira, passava das duas da tarde, fiz um esforço terrível para abrir os olhos, um esforço ainda maior para levantar.
Tomei meu café preguiçosamente e fui conferir o celular, constava nele mais de 15 ligações não atendidas do escritório, o telefone de casa não tocou porque eu tiro ele do gancho quando vou dormir (odeio ser acordado por telefone). Terminei o café e vesti uma roupa por cima do pijama mesmo e saí para uma caminhada.
Depois de andar quatro quarteirões encontrei uma praça com muitas árvores, sentei-me num banco que ficava em baixo de um jequitibá e mergulhei em meus pensamentos. Não sei quanto tempo fiquei distraído, mas num momento fui interrompido “-Com licença!”- disse-me uma senhora que se sentou ao meu lado, em resposta fiz um leve aceno com a cabeça e cheguei um pouco para o lado e voltei aos meus pensamentos. Em momento algum me preocupei como explicaria a falta no trabalho.
Depois de um longo período percebei que a senhora que havia sentado ao meu lado estava me olhando, provavelmente minha expressão facial transparecia preocupação, quando notou que olhei, disse:
-Tudo bem com você, rapaz?
-Tudo!
-Parece preocupado!
-Um pouco... Nada de mais!
-Pois saiba que Deus é capaz de resolver seus problemas - como não dei resposta ela prosseguiu - Você acredita em Deus? - Fiz que sim com a cabeça pra evitar maiores problemas, e ela seguiu em frente – Qual sua religião?
-Não tenho!
-Mas é importante! Deus é uma coisa importante em nossas vidas!
-É, eu sei! – respondi num tom emburrado.
-Esses seus problemas são falta de Deus na sua vida! Será que eu posso lhe fazer um convite?
Fiquei em silencio meditativo, depois olhei para ela e respondi:
-Não, não é falta de Deus na minha vida. É falta de mim mesmo!
Acho que minha resposta não a agradou, mal ouviu minhas palavras, levantou-se e foi embora. Não sei bem qual convite ela me faria, mas agradeço-a ter desistido, naquela quarta certamente eu recusaria.

sábado, 15 de novembro de 2008

Manhã

Eu tomo café. Bobagem por açúcar no café, mas ainda assim, a colherinha parece fazer parte da xícara, do banco, da mobília e do café. Mexo-o, esquecendo-me que não precisava, pois eu sabia, dentro de mim, que devia mexê-lo. Estou sozinho, atrasado e calmo, abro um jornal, ele me distrai enquanto mexo o café.
Antes de esfriar, tomo em uma golada e, sentindo falta de tirinhas no meu jornal, entro em um ônibus que me leva, além da ponte.

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Janelinha

Sol a pino, parece meio-dia, até seria se não fosse o horário de verão. Trânsito infernal para uma segunda feira, caótico para um dia ensolarado. Todos no ônibus devem estar repetindo, mentalmente, o mantra do verão: “praia, praia, praia...”
No ônibus, um senhor distraído alimenta seu “caguete”. Sua dentadura é impulsionada pela língua até o exterior da boca, retornando à gengiva sucessivas vezes. Sinto gastura e desvio o olhar.
No assento posicionado a frente do senhor banguela, havia uma garotinha, com seus 7 anos, pele negra, cabelos trançados e divido ao meio. Ela encontra-se ajoelhada, olhando para o senhor. O rosto da menina ia se contorcendo a cada segundo, agonia e desespero dominaram o rosto da garotinha, que em seguida, abriu o berreiro. Não contive e ri.
Notei que a garotinha não possuía os incisivos, certamente havia perdido seus dentes de leite.
Sem notar, o trânsito havia dado uma trégua e meu ponto se aproximava. Levantei-me, tirei um pirulito do paletó, entreguei o doce à garotinha e fiz um cochicho próximo a seu ouvido:
“Escove os dentes, três vezes ao dia!” e pisquei para ela, apontando discretamente para o senhor, do assento traseiro. Assim, a garotinha enxugou as lágrimas, esboçou um sorriso satisfeito e sincero e disse um obrigado, recomendado pela mãe.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Seu Astolfo II

Seu Astolfo chegou em casa um tanto desolado, não tirou seu chapéu antes entrar (o que chamou atenção de Maria, a faxineira, já que ele sempre o tirava antes de cruzar o portal) e sentou-se direto na sua cadeira de balanço.
- O senhor tá sentindo alguma coisa, seu Astolfo?
-Hã?! Não, não...escuta...me traz um copo d’água, por gentileza!
-Tem certeza que tá tudo bem?
-Tenho sim, só estou um pouco cansado, a fila do banco estava enorme!- (De fato a fila do banco estava realmente grande e seu Astolfo já estava mais que acostumado a enfrentar fila)
-Mas eu já disse pro senhor que quando quiser eu vou ao banco...
-Não, minha filha! Não tem necessidade!
-Vou buscar seu copo d’água.
Quando Maria voltou seu Astolfo havia mergulhado de novo em seus pensamentos. Ela estendeu o copo pra ele, que não notou. -A água.
-Ah! Agradecido!
Maria saiu da sala com um olhar desconfiado. Passou varias vezes pelo corredor sempre olhando para o velhinho que continuava a se balançar na cadeira com o copo cheio e uma expressão no rosto que fazem as pessoas quando estão tentando lembrar de algo.
O que de fato o perturbava, foi um senhor, que também estava na fila do banco, ter sido muito rude com ele sem nenhum motivo aparente. O que incomodava mais ainda Seu Astolfo era uma estranha sensação de ter conhecido esse senhor, o que não era nada estranho já que eles realmente se conheciam.
Em tempos passados Seu Astolfo não era Seu, nem tão pouco Astolfo era considerado nome de velho, nessa época Seu Astolfo era o grande Ast o rapaz que trabalhava na farmácia e que a noite fazia serenatas com seu violão. Nessa mesma época, morava perto da casa dele uma jovem senhorita, Elena, muito bonita, na verdade tão bonita que seu nome não precisava dos adornos do agá como letra inicial.
Numa noite Ast vinha do trabalho, quando passou por ela - apesar de serem vizinhos, ele nunca a tinha visto - obviamente uma moça tão bela não ficaria desacompanhada, ela vinha conversando com um outro rapaz, Fortunato – essa foi a primeira vez que seu Astolfo encontrou o velhinho rude do banco ou pelo menos passou por ele, já que perto de tamanha beleza ele praticamente não existia. O problema maior foi que não foi só Ast que viu a bela Elena, ela também o viu, na verdade ela já o tinha notado muito antes só que ele, sempre apressado, ignorava os sorrisos que ela lhe dava, nessa noite ela foi correspondida.
Ast correu pra casa tomou um banho e procurou seus amigos e perguntou se algum deles a conhecia e se sabiam onde morava, espantou-se ao descobrir que morava apenas duas casas depois da sua. Para resumir Elena depois dessa noite evitou encontrar com Fortunato, enquanto cada vez mais ela via seu Astolfo.
A porta da rua abriu-se e entrou uma senhora que se dirigiu direto a seu Astolfo, que ainda encontrava-se perdido em seus pensamentos com a mesma expressão de quem tenta lembrar de alguma coisa muito importante e com um copo cheio de água na mão.
-Ast, passei pelo Fortunato agora pouco e ele veio queixar-se de você, disse que você foi extremamente grosseiro com ele no banco.
-Ora, Elena, faz muito tempo que eu não vejo o Fort. . .- ele interrompeu o que ia dizer bebeu água e começou a rir levemente.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Eu não sou daqui, eu fui criado aqui, conheço os nomes das ruas e sei para onde elas levam, reconheço os rostos das pessoas e o companheirismo dos amigos que fiz. Mas bate na cabeça a frase fria, feito o ferro que tenho dentro de mim: eu não sou daqui.
Isso não mudará jamais, reconheço no sotaque uma impossibilidade de reação, um conforto familiar, um espanto de filho encontrando a mãe, perdida há anos, em outras terras, em outro lugar, lá, no lugar de onde vim.
Quando o sorriso é outro, e os olhos (sempre mais velhos por lá) fazem a falta que só noto quando estou mais perto (de alguma forma mais perto de mim). Ando pelas ruas, andar meio mineiro... Todo mineiro deveria ter um canivete, penso me lembrando de Sabino, quando terei o meu?
Fui menino mineiro o suficiente? Crescido tão longe de lá, cada vez mais longe e mais saudoso. Não conheço minha terra. Mas reconstruo-a toda em mim, em meu peito bate o solo mais rico e o povo mais velho, em meus olhos, a eterna desconfiança do mar, pois se lhe conheci cedo, ele nunca me pertenceu.

domingo, 26 de outubro de 2008

infanticidium

- Mãe!
- Que?
- Falta muito tempo pra eu parar de estudar?
- Um pouco!
- Um pouco quanto?
A mãe, pacientemente, conta, nos dedos, os anos e diz:
- Ahh, faltam cerca de 14 anos.
- Hmm! Catorze anos é muito, né? Com quantos anos eu vou tá?
- Vinte e um anos.
- Poxa, com 21 anos, eu já vou ser adulto e até lá, não vou ter tempo pra brincar! =\

(Baseado numa história real)
dedicado a um grande amigo, Peppe!

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

À LA BUKOWSKI

Acendo um cigarro, embora não fume, não gosto da fumaça, do sabor e ainda sou alérgico, mas fazem três noites que não durmo. Hoje será a quarta! Preciso passar o tempo, por isso do cigarro, li todos os livros que faltavam terminar, madrugada a dentro (preciso comprar mais, enquanto isso vou ficar com a nicotina).
Encosto na janela e dou a primeira tragada... Desisto do cigarro... A rua está vazia, não passa sequer um carro, olho pro céu na esperança de ver estrelas e lua, mas está nublado. Volto pro sofá e ligo a televisão, zapeio e não encontro nada interessante. Desligo a tv.
Apenas o sofá, a escuridão, eu e meus milhares de pensamentos... Penso no amanhã, no ontem, no que não fiz e devia ter feito, no que fiz, no que fiz e não devia ter feito, penso nela e em outras milhares, na janela de frente a minha que também esta com a luz acesa (quem será que esta acordado? se é que não esqueceram a luz acesa... que importa? seja quem for, esta lá e não aqui...), penso de novo em todas essas coisas e outras que me vão ocorrendo.
Abro um vinho, quem sabe se ao embebedar-me não durmo? A garrafa ta quase no fim, e tudo que consigo é ficar bêbado agitado. Jogo a garrafa contra a parede, espatifa-se e mancha de uma tonalidade avermelhada a parede e o sofá que são brancos, ainda havia um pouco de vinho... Desperdício. Dane-se!
Faço um café, preciso voltar à sobriedade. Ainda são 03h20min da manha... Enquanto tomo o café rabisco uns versos, umas linhas tortas de um conto... Não estou inspirado. Repouso a caneta e volto pro sofá.
Ligo a tv, novamente, zapeio. . . Finalmente alguma coisa, ta passando um filme do Chaplim!...

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Prosopopéia

Manequins e principalmente bonecas são coisas que sempre me aterrorizaram. Seus olhos realistas compenetrados com os meus, me transmitem uma certa agonia. Tenho sensação, que esses seres, só ficam na espreita, esperando que eu os encare, para que possam ganhar vida, seja pra me assustar, ou pra se libertarem de toda aquela mediocridade estática.
Desde a minha infância, isso sempre me incomodou. Minha irmã, possuía dezenas de bonecas, sendo uma delas, a mais diabólica, um ser com mais de um metro de altura. Eu não atrevia me aproximar daquela coisa, pra evitar seu olhar cínico e debochado, que esboçava um sorriso, que só eu era capaz de entender.
Ultimamente isso não tem me incomodo tanto, até porque, fazem 30 anos que espero que tais seres, que julgo inanimados, ganhem vida, e até hoje, por sorte, isso nunca ocorreu. Fico imaginando o dia que isso acontecer, ou melhor, prefiro nunca imaginar, caso um dia isso ocorra, por favor, me internem!
Sempre fui muito isolado, sozinho. Vai ver, esse seja o problema, o motivo das minhas aflições. Matutando, cheguei a uma conclusão. Precisava de companhia! Nunca fui bom com relacionamentos. Desde de pequeno, sempre achei que fosse morrer solteiro, e pelo jeito, minha profecia está se cumprindo. Então pensei em algo mais prático. Comprar um gato. Toda passividade de um gato, não me traria problemas.
Estava satisfeito com a idéia de ter um gato em casa. Porém essa satisfação foi acabando na medida que comecei a desconfiar do gato. O maldito gato não me deixa em paz. Seus olhos amarelos acompanham todos os meus passos. Minha privacidade, que a anos demorei a conquistar, estava sendo destruída por um gato. Nem na hora do banho, aquela bola de pêlos me perdoava. Imagine, você, se despindo, na frente de um ser, te olhando, ou melhor, te encarando. Maldito gato pervertido, o que será que passa na sua cabeça, pra ficar me olhando, de tal maneira, enquanto estou nu?
- Maldição, Suma daqui, gato demoníaco!

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

Meu gato é um poeta maldito que nunca escreveu um livro, mas sabe fazer tipo! Ele anda meio sombrio, pelo canto, olhando de lado, sempre de lado. Comunga com a noite, passando horas encarando a lua, para todos os gatos que passam, ele parece terrível.
Meu gato tem uma paixão platônica, um miado indiferente e um ar superior! Meu gato mudou seu nome de demônio brasileiro (tinhoso) para um mais adequado, algo inglês e frio que ainda não decorei. Meu gato mia alto “Edgar Alan Poe!” (Não alguma poesia ou conto dele, mas apenas o nome do autor).

segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Perfeitinho Indolente

Perfeitinho Indolente
Queria tudo a sua volta
E lógico, tudo perfeito
Bastava pensar no que queria
e pronto!

Até que um dia
Perfeitinho Indolente
Precisou de Companhia
e ali surgiu simplesmente
E como se não bastasse
Exigências cobriram como artilharia

O que talvez Perfeitinho Indolente
nunca fosse notar
é que todos possuíam vontades,
e com Comapanhia, não poderia ser diferente

- não quero brincar – dizia a Companhia
e Perfeitinho Indolente a cara trancava
- Não pode ser assim – a Companhia insistia
e Perfeitinho sentiu-se desafiado
porém a Companhia nada temia
e água nos olhos surgia daquele desprovido

Perfeitinho Indolente
Farto de tantas controvérsias
Berrou, berrou e berrou
Até que um alarde, todos perceberam
O mundo temia o pior

Alguns comemoravam a bravura da Companhia
Toda apnéia mantida há anos
Fora libertada de súbito
Todos acordavam do sonho de liberdade
Para realidade que há tempos aguardavam

Aos poucos, o mundo fora se contagiando
a liberdade gritava mais alto
e Perfeitinho Indolente
num surto de desespero
se rendeu

e infelizmente
Companhia despertou de seu sonho mais belo.

domingo, 12 de outubro de 2008

Seu Astolfo

I

Seu Astolfo caminhava nos seus comuns passos lentos pelo seu jardim, mas de forma tão natural que parecia deslizar, ao chegar à frente do seu banco favorito parou. Deu uma longa olhada ao redor, suspirou, e orgulhou-se do belo jardim que tinha e que ele mesmo cuidava, apesar de sua avançada idade. Sentou-se. Um vento frio soprou e ele Chegou um pouco mais para o lado de forma que ficasse no sol.
Mergulhado em profundo pensamento, seja lá o que um homem idoso pensaria, exibia certo sorriso... Talvez estivesse pensando na sua juventude, nas coisas que realizou, talvez no pé de amora do qual tanto gostava e que começava a dar frutos... mas foi interrompido por um outro sorriso, da sacada a doce bel sorria-o, o que fez com que seu Astolfo apresentasse um sorriso ainda maior. De abrupto ela virou-se e correu. Em questão de segundos entupia seu astolfo de perguntas, como fazem as crianças pequenas e curiosas.
-Vovô, o que você ta fazendo no sol? Por que ta sentado ai sozinho? – ele apenas sorriu. E como se aquilo respondesse tudo ou ignorando as próprias perguntas Mabel prosseguiu- -Me conta uma história?
-Uma história? Mas isso são horas pra histórias? Conto uma a noite!
-Mas eu quero uma agora, de noite o senhor vai acabar não lembrando ou vai dizer que me conta uma amanhã, e vou acabar ficando sem ouvir história nenhuma. -Riu com a esperteza da neta, pigarreou e começou: “Era uma vez”... (e colocou na história tudo que as meninas, principalmente as de seis anos, gostam que tenham: princesa, príncipe encantado, um reino bonito, vilão...).
A verdade é que ele sempre gostou dos violões, eles que tinham graça, sem eles todas as histórias seriam enfadas, então caprichou no vilão que criou, mas tanto que sua neta ficou com medo e desistiu de ouvir a história. Contudo não se chateou de forma alguma, o seu Astolfo; imaginou o final da história na sua cabeça e riu ao perceber que ficaria muito mais aborrecido se tivesse que destruir seu vilão.

Homunculu

Meus passos são curtos, finjo ter a paciência dos sábios, a gravidade dos eruditos que desistiram da vida. Fumando opinião, calculo quanto tempo deixo a mão passar pela grade, sem que ela se suje demais.
Meus óculos redondos, de grau alto, coisa de quem nasceu assim e finge que cansou as vistas com segredos. Menino que no fundo, tinha tudo para ser feliz, mas preferiu não ser.
Minha brancura meticulosamente preservada. Meu Brecht meticulosamente decorado. Olho como quem espreita, enceno como ator de quinta. No meu jornal letras francesas, no livro um alemão arcaico, nas mulheres que amei uma melancolia fria, digna.
Acabaram-se as bandeiras, a esperança é a ilusão dos povos, o novo ópio. O silencio da minha voz é o discurso de uma geração em choque. Eu li as palavras dos bardos na minha juventude, hoje não há nada que faça meu peito bater.
Eu fumo a opinião que quero ter, bebo toda razão de que preciso, e engulo em frio comprimido o amor e a inspiração que me falta para viver.